26 de junho de 2011

JUVENTUDE

O que viveu mais não é aquele que viveu até uma idade avançada, mas aquele que mais sentiu na vida.

Aos dezesseis anos, perambulando pela cidade como de costume, perdi o toque de recolher e passei a noite do lado de fora das portas trancadas da cidade. Não quis submeter-me aos castigos que me esperavam e fugi. Na França, perto de Genebra, solicitei ajuda ao pároco católico que me encaminhou a uma jovem senhora comprometida a ajudar peregrinos com a pensão que recebia do rei. Tratava-se da Madame de Warens. Protestante pietista, separada do marido por motivo de sedução, sem filhos, Louise, havia solicitado ajuda ao rei católico Victor-Amadeus II. Dele recebi uma pensão com a condição de converter-me ao catolicismo e praticar beneficência. A minha vida com Louise, cerca de dez anos mais velha, bela de corpo, alegre, dona de belos cabelos louros, dividiu-se em vários períodos. Fui para Turim, iniciando minha vida lá. Encontrei um trabalho melhor. Porém acabei por encontrar um amigo dos tempos de Genebra, e abandonei o emprego para voltar à cidade de onde sai, com a companhia dele. Voltei à casa de Louise na primavera de 1729. Ela me enviou a um seminário católico para continuar meus estudos. Depois de um ano como auxiliar e apaixonado por ela, acompanhei-a em Paris.  
Algum tempo depois, Louise acabou viajando para cuidar de uma pensão. Sem qualquer vínculo, perambulei por Paris ganhando a vida como professor de música. Não tive muito lucro, então fui atrás de Louise. Vivemos juntos até 1740 como amantes. Nesse período, li muito e comecei a escrever. Achava a situação desconfortável, e acabei adoecendo. Resolvi ir a Montpelier para me curar. No caminho, encontrei uma companheira que me deixou curado. Retornei novamente à Louise, mas decidi abandoná-la definitivamente. Em 1741 retornei a Paris. Mas desta vez para ficar de verdade! Cheguei no outono, encontrei alunos de música, e consegui rendimentos para sobreviver. Valendo-se de recomendações, aproximei da nobreza, conquistando amizades através da música, declamação de poesias, etc. Em 1743, por indicação de um sacerdote amigo, procurei duas senhoras da nobreza; passei a frequentar a casa de uma delas, apaixonei por ela, mas fui infeliz na tentativa. Outra senhora então me indicou ao embaixador de Veneza, para o cargo de secretário da embaixada francesa naquela república. Lutei para manter o cargo por dezoito meses. Empenhei-me em exercer bem minhas funções, com esperanças de fazer carreira diplomática. Mas o embaixador não reconheceu meus esforços. Após uma violenta discussão com o ele, deixei Veneza e voltei a Paris, onde obtive um julgamento justo do caso, e o pagamento de meus salários, o que consegui com dificuldade por não ser mesmo francês. Após esse episódio, voltei para minha música; conclui minha ópera e consegui que fosse cantada para Rameau que me condenou em parte, enquanto outros entendidos a aplaudiram.

Para conhecer os homens, torna-se indispensável vê-los agir.

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